terça-feira, 28 de junho de 2011

Reich - Bioenergética


Uma das terapias mais procuradas da atualidade por sua
profundidade e eficiência, a Bioenergética tem, surpreendentemente,
princípios descobertos há milênios. Aqui uma síntese.
RALPH VIANA
“A Bioenergética é uma técnica terapêutica que ajuda o indivíduo a
reencontrar-se com seu corpo e a tirar o mais alto grau de proveito possível
da vida que há nele. É também uma aventura de autodescoberta. Difere de
formas similares de exploração da Natureza do Ser por incluir o corpo como
caminho para compreender a personalidade humana. Para a Bioenergética, os
processos energéticos determinam o que acontece na mente, da mesma forma
que determinam o que acontece no corpo”.
Esta sucinta definição da Bioenergética destaca alguns de seus
princípios, mas é necessário aprofundar e estender a definição para
conseguirmos uma compreensão maior desta surpreendente terapia.
A palavra “surpreendente” é bem adequada para começarmos. Isto
porque, para muitos, a Bioenergética é uma terapia moderníssima, ainda
carimbada de “alternativa” e só conhecida e acessada por um número
limitado de pessoas.
ENERGIA DA VIDA - Então vamos pelo começo, pelo próprio nome: Bio
Energética – Energia da Vida. Aí está seu conceito central. A Bioenergética
identifica no ser humano (e também fora dele) uma energia fundamental, que
circula em nosso corpo, e que muitas vezes acumula-se e fica estagnada, por
diversas razões, em determinadas regiões. A interrupção do saudável livre
fluxo energético é a origem das disfunções e doenças que temos.
Esta energia foi chamada de Chi pelo chineses e de Prana pelos hindus,
por exemplo. Eles desenvolveram formas extremamente eficazes de
compreensão e tratamento de nossas disfunções - a partir do extenso
conhecimento acumulado em milhares de anos sobre o funcionamento desta
energia - condensadas na Medicina Tradicional Chinesa (que usa a Acupuntura,
dentre outros recursos) e na Medicina Ayurvédica Hindu (com toda sua rica
visão de Chakras).
Ou seja, um, não existe uma Bioenergética, mas várias concepções que
identificam uma energia primordial. Dois, não são nada recentes (têm
milhares de anos), apesar de seus conceitos afinarem profundamente com as
descobertas da física quântica (ver “O Tao da Física”, de Fritjof Capra). Três,
não são alternativas, no sentido de minoritárias com relação a um
conhecimento predominante. Na verdade, em termos mundiais, as concepções
bioenergéticas são majoritárias, já que utilizadas por muito mais pessoas que
as das visões mecanicistas. (Só com a população da China, Índia e adjacências
já se tem bem mais que 50% da população mundial).
O INCONCIENTE NO CORPO – No ocidente, ao longo destes milhares de
anos, inúmeros pesquisadores comprovaram a existência desta energia
específica. Incluindo Hipócrates, o patrono da medicina ocidental, que falava
de um “Fluido Medicatrix”, grandes médicos e cientistas ocidentais, de todas
as épocas, identificaram esta bioenergia: Paracelso, Mesmer, Reichenbach,
Galvani, Bergson, Mc Dougall, etc.
No final do século XIX , o médico Sigmund Freud formulou uma
interessante teoria a partir de seus estudos sobre a histeria, mostrando que
existia uma fundamental relação entre as doenças e a energia emocional.
Falava ele que “se a energia fosse descarregada, a doença física não
ocorreria”. Denominou esta energia de Libido, identificou sua origem sexual e
formulou um incipiente “mapa energético corporal”, localizando lugares de
maior concentração desta energia no corpo, chamados por ele de “zonas
erógenas”. Tudo levava a crer que esta seria a via de identificação do lugar
do inconsciente: o corpo.
A Teoria da Libido avançou até um determinado ponto, mas por
diversos motivos pessoais foi abandonada por Freud, que concentrou seus
interesses em outras questões na construção do monumental edifício teórico
da Psicanálise.
Wilhelm Reich, um de seus discípulos diretos, concentrou seus estudos
e trabalhos visando completar e aprofundar a teoria da Libido, a dar um
assentamento científico às suas pesquisas e a buscar compreender mais
amplamente o que motivou e possibilitou a implantação de uma cultura de
repressão sexual.
O radicalismo (de ir às raízes) de Reich transformou sua trajetória
científica e pessoal numa saga impressionante, que incluiu perseguições,
exílios, prisão e morte suspeita. Suas impressionantes descobertas e sua
coragem em apontar diretamente as origens das mazelas humanas, incluindo
as tramas pérfidas do poder político, angariaram reconhecimento entusiástico
de muitos, e também a ira e ações violentas daqueles que se sentiram
denunciados por suas colocações.
O trabalho de Reich organizou-se numa riquíssima teoria, que frutificou
em várias ramificações denominadas psicoterapias corporais, que
disseminaram-se por todo o mundo. O Brasil, poucos sabem, é um dos países
mais desenvolvidos na prática clínica da Bioenergética, junto com os Estados
Unidos. Em alguns centros, como no Rio de Janeiro, há muito tempo há uma
predominância das terapias corporais sobre as tradicionais, como a
Psicanálise, por exemplo.
OU VAI OU REICH – Partindo das formulações iniciais de Freud, Reich
pesquisou e escreveu sobre Bioenergia durante décadas. Deu um nome à
energia que descobriu: ORGONE (de organismo). Constatou sua presença na
atmosfera, desenvolvendo, então, aparatos capazes de acumular esta energia
e repassá-la às pessoas, com incontáveis benefícios para a saúde
(especialmente em casos de câncer, sobre o qual pesquisou por longo tempo,
tendo escrito um importantíssimo livro “A Biopatia do Câncer”).
Observou ele que quando esta energia fluía livremente pelo corpo
trazia sensações de prazer e amorosidade, propiciando um estado de saúde
vibrante e uma espontaneidade legítima. Mas notou também que as ameaças
e interdições eram capazes de bloquear este livre curso energético. Os
sentimentos de medo, angústia, ansiedade, tristeza, etc, provocam tensões
musculares que dificultam o trânsito energético. A repetição contínua destes
estados provoca contrações crônicas, chamadas por ele de “couraças
musculares”. Estas couraças formam anéis de tensão em nosso corpo,
chamados de segmentos. Ele identificou sete anéis de couraça: ocular, oral,
cervical, toráxico, diafragmático, abdominal e pélvico.
As couraças instalam-se por desequilíbrios que gravam-se no sistema
nervoso. Reich desenvolveu então um conjunto de técnicas terapêuticas
extremamente criativas e eficientes para desbloquear a bioenergia e
reequilibrar as ações do sistema nervoso. Por isto denominou seu trabalho de
Vegetoterapia (pela ação no S. N. Vegetativo). Suas técnicas de desbloqueio
incluem uma sofisticada leitura corporal e também massagens especiais,
capazes de desbloquear as emoções retidas no corpo.
A concepção reichiana revolucionou a Psicologia e as concepções
tradicionais, que já aceitavam a influência das emoções sobre a saúde
corporal (como a medicina psicossomática), mas que não desenvolveram
terapêuticas adequadas. Seu conceito fundamental de que existe uma unidade
corpomental (daí decorrendo que qualquer doença física ou mental apresenta
aspectos emocionais e precisa ser tratada também por esta via) cada vez é
mais aceita. Ou seja, por exemplo: a miopia não é um problema ocular,
simplesmente, mas uma defesa que o indivíduo desenvolveu, uma forma de
“ver o mundo”. (É interessante notar que junto com a miopia encontram-se
inúmeros traços de personalidade).
EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS – Vários seguidores de Reich acrescentaram
mais dados e desenvolveram técnicas baseadas em seus princípios. Alexander
Lowen talvez seja o mais conhecido, por seus livros - autênticos best sellers -
e por sua terapia denominada Análise Bioenergética. Afora outras inúmeras
contribuições, Lowen desenvolveu um “menu” amplíssimo de eficientes
exercícios bioenergéticos, capazes de ajudar a manter a saúde e revigorar o
organismo, mantendo a energia fluindo. Atualmente com 96 anos e bastante
ativo, é um exemplo vivo da eficácia de sua terapia. Afirmou ele
recentemente: “diariamente me exercito, choro e expresso minha raiva
através de batidas de pernas (um dos exercícios propostos). Me sinto muito
bem e de constante bom humor”.
O que mais dizer? Uma infinidade de coisas que o espaço não permite,
nesta edição. Mas voltarei ao tema oportunamente. Com muito prazer.
Grato pela leitura.

domingo, 8 de maio de 2011

Mitos e Psicanálise

Mito são expressões simbólicas. Origina-se da necessidade das pessoas manterem-se unidas em suas tradições e eram transmitidas oralmente de geração em geração. Cada coletividade transmite sua tradição a seu povo, indivíduos e suas famílias através das experiências contadas na forma de organização subjetiva.
A psicanálise vai buscar na mitologia Grega modelos que organizam descrições teóricas que sustentem imagisticamente hipóteses que permitem articulações com os fenômenos clínicos e assegurem constructos para a investigação metapsicológica.  A mitologia vai edificar a ciência do inconsciente. Os mitos auxiliam o indivíduo sobre sua origem e o lugar que se ocupa na terra através de uma mitologia pessoal. É uma construção pessoal, interna do sujeito.
O Complexo de Édipo - constitui a teoria Freudiana. No mito, Freud estrutura o tripé psicanalítico pai, mãe e filho. Para ele o conflito edípico tanto do filho (menino) como da filha (menina) tem origem na triangulação e vai estruturar o aparelho psíquico de cada um de nós. Para Jung o Complexo de Electra explicaria e relação da filha com a mãe.
Freud dá continuidade a máxima “conhece-te a ti mesmo” do filósofo Sócrates em seus estudos sobre a psique. Foi a partir da morte de seu próprio pai que Freud então com 40 anos inicia sua auto-análise, descobrindo os fundamentos do inconsciente. Os laços de amor e rivalidade entre pais, filhos e irmãos, vendo aí as raízes do complexo de Édipo.
O Mito do Falo e da Castração - nos fala sobre Urano, um pai poderoso, mas cruel que devora os filhos que tem com Géa a terra. Segundo Freud a castração é o que organiza nossa identidade sexual e também o falo é organizador da sexualidade.  O medo da castração faz com que o menino renuncie o amor da mãe e desta forma vá procurar outra mulher para ele. Nas meninas, o complexo da castração apresenta-se pela falta anatômica de um órgão externo como o dos meninos. Assim, seu complexo se lança na resolução de seus sentimentos edípicos deixando de amar a mãe (igual a ela) para ir à busca de um amor como o pai (diferente dela).
O Mito da Horda Primitiva - é uma metáfora que Freud usa para explicar como ocorre o primeiro contato social. Os filhos devem criar a comunidade de irmãos. Estes devem ser iguais em direitos e solidários na distribuição das mulheres e na criação das leis. No mito, os filhos devoram ritualmente o corpo do pai tornando todos iguais e assim cria-se a sociedade.
O Mito das Protofantasias - revela que o mundo, o homem e a vida têm origem e sua história no sobrenatural, que é preciosa e exemplar.
O Mito da Cena Primária - céu e terra se conjugam em um abraço amoroso. Para a psicanálise, a cena primária é o pai e a mãe no ato amoroso que nos gerou. As fantasias infantis irão contribuir para a constituição de aspectos do psiquismo infantil e da organização das neuroses.
O Mito do Narciso – como “sua majestade o bebê” o narciso é todo em si mesmo. A pessoa fica “presa” no narcisismo primário, onde o EU se confunde com o próprio mundo.
O Mito da Pulsão – pulsão é força imperiosa e pulsante. Inquieto e inquietante. É a força viva que nos habita e faz viver.
O Mito de Eros - Freud considera o mito de Eros como o principal adversário da necessidade. Eros é um belo Deus, caprichoso, porém vingativo e poderoso. O Deus que tudo une. O governante único das pulsões de vida e do Eu, tendo que se defrontar com seu complemento, a morte.
O Mito da Morte (tânatos) – É um mito poderoso, a morte irmã do sono e rainha do esquecimento. Uma luta entre Eros e Tânatos. A morte é para a psicanálise a pulsão silenciosa ecoando em todo ato da vida. A pulsão de morte é também a grande responsável pela neurose do destino.
O Mito do Inconsciente – o inconsciente é atemporal, invisível, onipresente e arquipotente. Teia todas as relações inter, intra e transpessoais. Assim como o sonho o inconsciente é ferramenta para a compreensão da matéria que nos forma. É através da mitologia que tentamos compreender a psique humana. Trata-se de usar uma linguagem representativa do pensamento arcaico.

Identidade, Subjetividade e Singularidade

Quando nos apresentamos aos outros, fazemos isso dizendo por exemplo: nosso nome, idade, onde moramos, o que gostamos, onde trabalhamos, qual nosso carro, se temos ou não filhos , se somos ou não casados. Pensamos estar falando sobre nossa idantidade e não nos damos conta que na verdade estamos falando de uma parcela dela, a identidade social. Esta idendidade cumpre um papel social que serve para mantermos as coisas em ordem. Temos necessidade do contato e do controle social. Nos reconhecemos no outro e isto garante nossa identidade. Na busca pelo reconhecimento muitas vezes caímos na armadilha da massificação social, que é produzida pelo homem. A subjetividade é um mecanismo de agenciamento de "modos de ser", que é moldado e fabricado no registro social. Todo ser humano está sempre em processo de subjetivação e muitas vezes sem nos darmos conta estamos  pruduzido a subjetivação massificada. Colocamos nossos filhos o dia inteiro na frente da televisão ou mesmo de um computador  para distraí-los e assim termos mais tempo para fazermos nossas atividades. Assim torna-se difícil produzirmos o "ser" diferente, o "ser" singular. Para que isto ocorra temos que aceitar as diferenças. É aceitando a diferença do outro que nos constituímos singular. Singularidade, significa a capacidade de mudar e aceitar as multiplicidades. Não devemos cair na armadilha de transformarmos singularidade em sobrevivência.     

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O cínico e o sincero.



Quanto ao trabalho escrito por  Erving Goffman como o título de “A REPRESENTAÇÃO DO EU NA VIDA COTIDIANA” achamos algumas idéias extremamente interessantes e por isso resolvemos as apresentar no nosso blog.
O indivíduo sempre representa um papel em nossa sociedade e popularmente dizemos que este faz uma representação e dá um espetáculo em benefício dos outros. Mas será certa esta idéia? Para entendermos melhor é importante pensarmos na questão desta própria pessoa e se ela, na verdade, está sendo cínica ou sincera.
Para Goffman o sincero é quando o ator está completamente compenetrado em seu próprio número. Quando ele está sinceramente convencido de esta ser sua realidade verdadeira e seu público também acreditar na sua representação.
No outro lado verificamos que o ator pode não estar completamente compenetrado de sua prática. O executante pode ser levado a dirigir a convicção de seu público apenas como um meio para outros fins, não tendo interesse final na idéia que fazem dele e da situação. Para Goffman quando o indivíduo não crê em sua própria atuação e não se interessa em última análise pelo seu próprio público, podemos chamá-lo de cínico ou reservando. E o termo sincero para os que realmente acreditam na impressão criada por sua representação. Nem todo ator cínico esta interessado em iludir sua platéia, tendo por finalidade o que se chama “interesse pessoal”. Um indivíduo cínico pode enganar o público pelo que julga ser o próprio bem deste, ou pelo bem da comunidade etc.
O cínico e o sincero na verdade vem a ser dois extremos onde o indivíduo pode variar visto que todos os papéis têm suas defesas e garantias e é através deles que acabamos por nos conhecer uns aos outros e também a nós mesmos.

           

domingo, 10 de abril de 2011

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

As perguntas que devemos nos fazer são as seguintes: Qual é o papel do indivíduo como consumidor e como o consumo desenfreado tem relação com a destruição do planeta? Precisamos sair do estado de acomodação. Isso reflete a inserção do conceito dos três "Rs" (Reduzir, Reutilizar e  Reciclar). Nada é mais educativo do que trabalhar o próprio exemplo do cotidiano.  A reflexão ambiental começa sobre o modo e estilo de vida que vivemos na contemporaneidade, segundo Sylmara. O caminho para a sustentabilidade deve ocorrer com a participação ativa da sociedade, por meio da proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. É preciso que a criança, o adolescente ou o adulto sejam levados a reconhecer de que forma a utilização de veículos com combustível fosséis (petróleo, carvão e gás)  e o excesso de alimentação, por exemplo, podem contrubuir para as mudanças do clima e temperatura no planeta, com a produção dos gases do efeito estufa. Nessa linha de raciocínio , se questiona qual é a responsabilidade de cada um e como é possível combater, na prática, os impactos ambientais.
Revista Psique, n 47

sexta-feira, 1 de abril de 2011

As Três Ecologias

 O texto de Félix Guattari,aborda com muita propriedade e dinamismo os modos de vida,no mundo contemporâneo.A evolução dos sentidos,as relações de subjetividades,as interações sociais e o sistema global movimentam-se de forma exacerbada e vulcânica.
Digo isso, me referindo ao processo frenético das coisas. Esse desenvolvimento continua, e estimulado pelo prazer da “posse” e do conhecimento das coisas, esse controle absoluto do homem sobre a natureza, exerce um descontrole e uma insatisfação constante nos indivíduos. Quanto mais se tem, mais se quer. Perde- se a noção. Fica o vazio pertinente que algo nos falta. Mas o que? Tentamos o controle das situações diversas e adversas também (do âmbito da natureza), por exemplo, previsões do tempo, etc.
Nesse contexto, inúmeras são as problemáticas humanas. A das relações pessoais, sociais e com o mundo, perde a referência da sua existência. Cabe ressaltar que uma forma equilibrada entre estes três elementos, seria a de reinventar maneiras de conduzir as práticas humanas em harmonia com o mundo. È evidente que isso não é uma tarefa fácil. Temos exemplos diários de como não agirmos de forma ecologicamente correta com os sujeitos e o mundo.
Os filmes “A história das coisas e Ilha das flores” abordam sem cortes, o desrespeito que temos com nosso semelhante e pior com o mundo. Consumismo, capitalismo (da ordem dos homens, claro) condena todos que habitam esse planeta a permanecerem como escravos ou vilões da própria cientificidade, ou do transcender. Então qual seria a alternativa criativa de mudança?
Dar-se-ia através de práticas construídas pelo individuo, para o coletivo focando a harmonia entre ambos.
     Neste contexto de produção está a psicologia  que pode e deve criar outros territórios, linhas de fuga para que processos de singularização, como resultado das análises individuais, perpassem pelos processos coletivos. Tudo deve estar inter ligado formando assim uma heterogênese, um processo de re-singularização para reestruturar as relações humanas no social, ambiental e individual (subjetivo). 
“Seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A Psicologia Newtoniana


     Descartes estabelece uma distinção entre corpo e alma. Platão foi quem primeiro ocupa-se do problema da consciência, no Fredo, ele faz uma metáfora onde coloca a biologia e a espiritualidade (mente-corpo) simbolizadas em dois cavalos representando as paixões do corpo e as emoções superiores. Os psicólogos pós- cartesianos adotam métodos para o estudo da psique humana, assim são criadas as duas principais escolas de psicologia; os Estruturalistas e o Behaviorismo. As duas escolas têm como modelo em suas bases a estrutura newtoniana. Freud cria a Psicanálise a partir da associação livre. Hoje se entende que a psicologia não deve ficar estreita e condicionada a estas concepções. Neste novo processo, escolas filosóficas orientais, como as indianas, inserem novos conceitos que não podem mais serem entendidas dentro da estrutura cartesiana, mas sim em experiências místicas que buscam a transformação da consciência.     Locke coloca a mente humana como sendo uma “tabua rasa”, onde as idéias eram gravadas através das percepções sensoriais, ponto de partida para uma teoria mecanicista. Hume, baseado na experiência e observação cria uma psicologia em que o “eu” fica reduzido em ”feixe de percepção”. David Hartley reduz toda atividade mental a processos neurofisiológicos, Wundt incorpora a idéia e passa a ser considerado o fundador do primeiro laboratório de psicologia.
     A psicologia moderna do século XIX intensifica seus estudos nos avanços científicos, entre funções mentais e estruturas cerebrais, estudadas por neurocientistas. Desta forma a orientação newtoniana firma-se na psicologia. Surge ainda nesta época o campo da reflexologia, a relação causal entre estímulo e a resposta. Pávlov descobre a relação sistemática entre a qualidade das experiências sensoriais e as características físicas de seus estímulos.  A orientação elementarista sustentava que todo o funcionamento mental podia ser analisado em elementos específicos, eles estudavam como podiam combinar idéias e processos associativos para formar a percepção. Os psicólogos eram dualistas e tentaram estabelecer uma distinção entre mente e matéria.
     Psicólogos que sustentavam a natureza unitária da consciência e percepção deram origem a duas escolas de abordagem holística: o gestaltismo e o funcionalismo.  A psicologia gestaltista fundada por Max Wertheimer e colaboradores defende que temos que olhar o todo para entendermos as partes, o objetivo é ajudar as pessoas a harmonizarem ambiente consigo mesmas. William James ao estruturar o funcionalismo, vai estudar os processos mentais, ele funda nos Estados Unidos o primeiro laboratório de psicologia que passa do ramo da filosofia para a ciência laboratorial. Ele dá ênfase à consciência como fenômeno pessoal, integral e contínuo. Para ele, “corrente de pensamento” deveria ser entendida como relação entre ações conscientes e os confrontos cotidianos dos seres humanos com desafios ambientais variáveis.
     No século XX cresce a psicologia em prestígio, se junta a outras áreas do saber, como estatística, medicina, biologia, cibernética e teorias da comunicação.  Duas escolas com o mesmo modelo newtoniano, porém com diferentes métodos e concepções da consciência o Behaviorismo e a Psicanálise dominam o pensamento psicológico.
     O Behaviorismo representa a abordagem mecanicista em psicologia, pois a estrutura é newtoniana. Os fenômenos mentais foram reduzidos a tipos de comportamento e este a processos fisiológicos. Aqui, inaugura-se um novo campo da psicologia animal experimental (condicionamento). Pávlov estudou nos animais, a resposta estímulo evitando os conceitos psicológicos, descrevendo o comportamento e seus sistemas reflexos. Watson identificou a psicologia com o estudo do comportamento, ele pretende elevar a psicologia a uma ciência natural objetiva. Para isso, concentrava-se em fenômenos que pudessem ser registrados e descritos objetivamente por observadores independentes. Estímulo-resposta é o que deve ser estudado, assim a psicologia torna-se primordialmente uma psicologia da aprendizagem, os fenômenos não são interpretados como experiências subjetivas e sim do mundo externo.  Skinner desenvolve um novo método de condicionamento, o “condicionamento operante” (também baseado na observação de animais), onde o comportamento é controlado por toda a história passada em vez de estímulos diretos. Para ele, a única maneira de superar nossas crises é através do controle científico do comportamento.   
     A Psicanálise por sua vez, não se originou da psicologia, mas sim da psiquiatria, modelo biomédico. Tendo necessidade de explicar enfoques psicológicos para a doença mental ,  surge à psicologia. Charcot usa a hipnose para tratamento da histeria, ele mostra que os pacientes podem se livrar dos sintomas de histeria através da sugestão hipnótica, o que coloca em dúvida a questão da visão de abordagem orgânica da psiquiatria.   Freud juntamente com Breuer usa a técnica hipnótica com seus pacientes neuróticos.  Em 1895 eles publicam “Estudo sobre a histeria” considerado o marco inicial da psicanálise e substituem o método da hipnose pelo método da associação livre, dando ênfase as experiências emocionais traumáticas. Por ser neurologista Freud acreditava poder entender todos os problemas mentais em termos de neuroquímica, ou seja, com uma explicação neurológica para a doença mental. A energia que se encontra reprimida procura uma descarga através de vários canais que são as raízes da neurose.  Freud descobre o inconsciente e sua dinâmica ou psicologia profunda como ficou conhecida.  Ele enfatiza a importância das experiências da infância no desenvolvimento futuro do indivíduo. Ampliou o conceito de sexualidade humana, identificou a libido ou impulso sexual como forças psicológicas. Introduziu a noção de sexualidade infantil descrevendo as fases do desenvolvimento psicossexual. Com a interpretação dos sonhos, Freud encontra uma maneira de acessar o inconsciente. Freud formula uma nova teoria da personalidade baseada em estruturas distintas do aparelho psíquico; id, ego, superego. Descobre a transferência no processo terapêutico que é de importância central na psicanálise. As forças sempre se apresentam em pares; vida/morte, ativa/reativa, impulso/defesa.  A psicoterapia freudiana negligencia o corpo tal como a terapia médica negligencia a mente. A psicologia freudiana é basicamente uma psicologia do conflito, o aspecto dinâmico tem características newtonianas. Vários discípulos de Freud criaram suas próprias escolas; Jung, Adler, Reich e Rank. Adler desenvolve a psicologia individual. Reich quebra o tabu do contato físico e desenvolve a terapia baseada nas “couraças musculares”. Rank foca na questão geradora de ansiedade no nascimento “evento traumático do nascimento”. Jung entende que a abordagem racional da psicanálise impossibilita que aspectos mais sutis da psique humana como experiências místicas pudessem ser exploradas.
    
    



segunda-feira, 21 de março de 2011

Por que as pessoas entram na sua vida?


Pessoas entram na sua vida por uma "Razão", uma "Estação" ou uma "Vida Inteira". Quando você percebe qual deles é, você vai saber o que fazer por cada pessoa.

Quando alguém está em sua vida por uma "Razão"... é, geralmente, para suprir uma necessidade que você demonstrou. Elas vêm para auxiliá-lo numa dificuldade, te fornecer orientação e apoio, ajudá-lo física, emocional ou espiritualmente. Elas poderão parecer como uma dádiva de Deus, e são! Elas estão lá pela razão que você precisa que eles estejam lá. Então, sem nenhuma atitude errada de sua parte, ou em uma hora inconveniente, esta pessoa vai dizer ou fazer alguma coisa para levar essa relação a um fim. Ás vezes, essas pessoas morrem. Ás vezes, eles simplesmente se vão. Ás vezes, eles agem e te forçam a tomar uma posição. O que devemos entender é que nossas necessidades foram atendidas, nossos desejos preenchidos e o trabalho delas, feito. As suas orações foram atendidas. E agora é tempo de ir.

Quando pessoas entram em nossas vidas por uma "Estação", é porque chegou sua vez de dividir, crescer e aprender. Elas trazem para você a experiência da paz, ou fazem você rir. Elas poderão ensiná-lo algo que você nunca fez. Elas, geralmente, te dão uma quantidade enorme de prazer... Acredite! É real! Mas somente por uma "Estação".

Relacionamentos de uma "Vida Inteira" te ensinam lições para a vida inteira: coisas que você deve construir para ter uma formação emocional sólida. Sua tarefa é aceitar a lição, amar a pessoa, e colocar o que você aprendeu em uso em todos os outros relacionamentos e áreas de sua vida. É dito que o amor é cego, mas a amizade é clarividente. Obrigado por ser parte da minha vida.

Pare aqui e simplesmente SORRIA.

"Trabalhe como se você não precisasse do dinheiro,
Ame como se você nunca tivesse sido magoado, e dance como
se ninguém estivesse te observando."

"O maior risco da vida é não fazer NADA."
Martha Medeiros

quinta-feira, 17 de março de 2011

Cisne Negro

 "Cisne Negro", o Carnaval e as mães
CONTARDO CALIGARIS
 Folha de São Paulo - 10/03/11

""CISNE NEGRO" é a história, muito bem contada, do desabrochar de uma loucura. Mas amei o filme por outras razões. Aqui vão duas delas.
1) Revi "Cisne Negro" no domingo e, na volta do cinema, assisti ao Carnaval na TV.
Gosto da exuberância de alegorias e fantasias, e o que mais importa no Carnaval talvez seja a paixão das escolas ao preparar o desfile, mas resta que, na televisão, o espetáculo do carnaval e de seus bastidores consegue a façanha se ser, ao mesmo tempo, vulgar e careta. Como é possível?

É que, no espetáculo televisivo, a transgressão da folia consiste numa tremedeira de carnes (vagamente sugestiva de um exercício sexual), acompanhada de uma dose diurética de cerveja. Ou seja, o Carnaval na televisão é um programa infantil, pois é assim que as crianças imaginam a transgressão: vulgar como xixi-cocô e careta como suas suposições sobre o que acontece entre adultos na hora do sexo.
Só para confirmar: as crianças encaram com prazer o tédio de uma noite de desfiles em família, na frente da televisão. Elas acham reconfortante supor que o lado B dos adultos seja parecido com a visão infantil da transgressão: comilança, bebedeira, bunda e peitos. Só falta um pum final.

Na verdade, fora esse momento anual de regressão coletiva, espera-se que, para os adultos, a transgressão seja uma excursão em territórios mais tenebrosos e mais aventurosos. Espera-se que o lado B da gente não caiba no Carnaval televisivo e que sua descoberta peça mais do que alguns litros de cerveja.
1) Nada torna a vida interessante tanto quanto a descoberta de nossa própria complexidade; 2) Talvez a função mor da cultura seja a de nos dar acesso a partes de nosso âmago que normalmente escondemos de nós mesmos; 3) Conclusão: se conseguimos viver plenamente, é graças a autores, atores, intérpretes etc. que nos revelam nosso próprio lado B (e C e D).

Agora, será que o artista poderia levar espectadores ou leitores para territórios que ele não tiver primeiro desbravado nele mesmo?
Alguns pensam assim: só quem ousa se aventurar pelo seu próprio lado B consegue revelar aos outros o lado B que eles escondem de si mesmos. Nina, a estrela do "Lago dos Cisnes", não poderia arrebatar seu público sem se entregar corajosa e perigosamente a seu lado obscuro, sem se entregar ao cisne negro nela.

Outros pensam que, para encarnar o cisne negro, Nina não precisa sentir sua lascívia na pele. Bastaria ela atuar e dançar (como dizia Diderot) com a inteligência, e não com o coração. Mas como ela poderia dançar e atuar o cisne negro com a inteligência sem conhecer e entender o que ela precisa expressar?
Seja como for, quem acha que seu lado obscuro é feito de carnes trêmulas e cerveja deveria fazer um esforço sério para sair da infância. Nesse esforço, Nina e "Cisne Negro" seriam de bastante ajuda.

2) Homens e meninos, mesmo quando aspiram à perfeição, convivem razoavelmente bem com falhas e fracassos. É porque acreditam firmemente que, mesmo imperfeitos, eles nunca deixarão de ser tudo o que suas mães pediram a Deus.
Mulheres e meninas, ao contrário, sentem que, mesmo alcançando a perfeição, não serão o que suas mães pediram a Deus. A explicação clássica disso é que elas, pelo simples fato de serem mulheres, nunca preenchem a expectativa materna tanto quanto um filho varão. Paradoxo: as mulheres aspiram à perfeição mais do que os homens porque tentam merecer uma aprovação materna que é quase impossível.

Há uma outra explicação do sentimento feminino de não corresponder às expectativas maternas. Essa explicação, mais inquietante, diz que, para uma mãe, o triunfo de uma filha (profissional ou amoroso) sempre apresenta ao menos um defeito: o de não ser o triunfo dela mesma, da própria mãe.

A mãe de Nina espera que o sucesso da filha compense suas frustrações de bailarina que renunciou à carreira. Também acusa a filha de ser a causa dessa renúncia. Qual será o melhor bálsamo para a ferida: o sucesso ou o fracasso da filha?
Muito frequentemente, as mães rivalizam com as filhas. Essa rivalidade é especialmente óbvia e feroz quando, de um jeito ou de outro, oferecendo pelúcias ou preparando chazinhos, uma mãe tenta manter a filha parada numa eterna infância.

Poesia de Viviane Mosé

Vida/tempo

Quem tem olhos pra ver o tempo?
Soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele
Soprando sulcos?

O tempo andou riscando meu rosto
Com uma navalha fina.
Sem raiva nem rancor
                            O tempo riscou meu rosto com calma.

Eu parei de lutar contra o tempo. Ando exercendo instante.
Acho que ganhei presença.

Acho que a vida anda passando a mão em mim. Acho que a vida anda passando.
Acho que a vida anda. Em mim a vida anda. Acho que há vida em mim. A vida em mim anda passando. Acho que a vida anda passando a mão em mim

                            Por falar em sexo quem anda me comendo
É o tempo.  Na verdade faz tempo, mas eu escondia

Porque ele me pegava à força, e por trás. 
Um dia resolvi encará-lo de frente e disse:  Tempo, se você tem que me comer  Que seja com o meu consentimento.  E me olhando nos olhos.  Acho que ganhei o tempo.  De lá pra cá ele tem sido bom comigo. Dizem que ando até remoçando


terça-feira, 15 de março de 2011

 A Casa
Um Ariano, impulsivo, decidiu fazer uma casa. Independente de tudo, ele decidiu que a faria de qualquer jeito. Seu nome era: Sou. Com sua energia exuberante e seu tom afirmativo conseguiu o apoio de um cara do signo de touro  chamado Quero.
Quero, muito afetuoso, recebeu bem o projeto de Sou e aceitou participar porque viu que era possível realizá-lo. Então Quero dedicou-se obstinadamente a colocar na prática o projeto da casa.
E a casa começou a crescer, sob a liderança de Áries e a objetividade, dedicação e paciência do Touro, que almejava uma casa Bela, porém muito sólida e que durasse toda vida. Por conhecer seu espírito possessivo, é que o Quero sabia, que depois de estar fixo ali, ele dificilmente mudaria para outra casa. Um dia surge um sujeito chamado Penso, do signo de Gêmeos. Muito comunicativo, ele chegou ao Sou e ao Quero, perguntando sobre tudo: a casa, elos, o projeto, etc. Logo demonstrou interesse em morar com eles e trabalhar na casa, dizendo-se muito adaptável e apenas muito disperso e avoado.
Os outros dois aceitaram sua adesão e com o tempo notaram que ele não pegava muito no martelo, mas era muito inteligente e preferia o trabalho intelectual, ficando assim encarregado dos cálculos e desenhos do projeto.
Uns dias depois, o Penso sugeriu aos outros que uma amiga sua do signo de câncer fosse morar e trabalhar com eles. Penso alegou que precisavam de uma canceriana para zelar pela casa e sua conservação. Também pelo fato dela ter um aguçado instinto maternal já iria protegê-los também. Todos gostaram da idéia de ter uma mãe sensível e diligente dentro de casa e ela foi aceita. Seu nome era Sinto.
Outro dia o vizinho veio se apresentar. Os quatro já sabiam da sua fama de pessoa honrada e nobre. Seu nome era Ouso e era do signo de Leão. Ele ficou todo orgulhoso quando soube que os vizinhos tinham boas referencias dele.
Na verdade, ele veio procurar os vizinhos para presenteá-los com um quadro pintado por ele mesmo (O leonino é muito criativo) para que decorassem a casa quando ficasse pronta. Assim o Ouso deu provas de ser muito generoso.
Os quatro notaram uma disposição e uma atividade muito grande no seu jeito de se comportar e resolveram convidá-lo para ajudar na construção da casa. Ele juntou-se ao grupo e logo tomou uma posição de dirigente, assumindo o comando das obras de uma forma um tanto autoritária.
Na semana seguinte, estavam trabalhando quando apareceu um sujeito do signo de Virgem chamado Analiso. Ele se aproximou da casa e ficou observando detalhadamente. Começou a fazer em voz alta uma análise meticulosa da obra, revelando um acentuado espírito crítico.
Falou que os tijolos estavam mal assentados, que a argamassa era ruim, que as peças prontas estavam mal pintadas, etc.
Sempre criticando, entrou na casa semi-construída e começou a botar as coisas organizadamente em seus devidos lugares.
Assim fazendo, colocou mais ordem no canteiro de obras.
A princípio, todos se indignaram com sua intromissão, principalmente o ariano que quis expulsá-lo dali.
Porém o Geminiano Penso, sugeriu que esse seu espírito crítico poderia ser de muita utilidade para a conclusão perfeita da obra. Todos concordaram e resolveram convidá-lo para participar na construção da casa.
Ele aceitou. Com o tempo os outros descobriram que ele era muito serviçal e assim sendo, trabalhava com afinco em suas funções.
Um dia depois, ouve uma grande discussão entre Sou e o Analiso. O Sou queria pintar o muro de vermelho vivo e o Analiso saltou dizendo que isso ia espantar até o carteiro. Então estourou o maior bate boca. O Sou se exalta e briga facilmente e o Analiso é muito nervoso.
Nisso surgiu uma mulher muito bela, chamada Equilibro, do signo de Libra. Com muita diplomacia, aproximou-se dos dois e pediu que tivessem calma. Falou que se mantivessem uma conversa equilibrada, chegariam a um ponto em comum, que se harmonizaria com seus anseios individuais. Cantou-lhes uma canção que falava de justiça (revelando-se uma artista) e fez um alerta de que todos os outros também iam escolher  a cor do muro e portanto, discutem sem necessidade e sem reconhecer o direito dos que trabalham com eles.
Todos gostaram muito da sua intervenção e convidaram-na para construir a casa com eles. Ela ficou muito indecisa em aceitar ou não, mas acabou ficando, movida pelo seu espírito de cooperação.
Alguns dias sucederam , até que uma tarde, um homem do signo de Escorpião chamado Calo aproximou-se da casa e de forma indecisa veio falar ao Ariano Sou, supondo ser ele o líder do grupo, que queria trabalhar com eles.
Sou, perguntou qual a atividade dele.
__ Cirurgião, respondeu ele. Também estudo ocultismo e psicologia. Porém ando sentindo necessidade de um trabalho mais braçal para descansar minha cabeça. Como moro aqui em frente e observo vocês, resolvi trabalhar nessa casa também.
Sou, Quero, Sinto, Ouso, Analiso e Equilibro reuniram-se e aceitaram que ele participasse.
Com o tempo Calo introduziu noções de Arqueometria no projeto arquitetônico da casa e transformou completamente a idéia inicial dos que fizeram esse projeto.
Também se tornou o administrador da casa e reorganizou tudo outra vez. Calo era um sujeito frio e silencioso, procurando se envolver principalmente com Equilibro.
Na verdade, Calo se aproximou do grupo porque nutria uma paixão intensa pela bela Equilibro e não hesitou em mentir a razão de sua aproximação, porque para ele, somente interessava estar perto dela, não importando os meios que tivesse de usar para realizar seu desejo. Tinha um ciúme feroz de Sou, com quem a libriana mantinha uma relação superficial.
Numa terça feira, cheia de sol, uma amiga de Penso veio visitá-lo. Seu nome era Vejo e seu signo, Sagitário.
Era uma pessoa muito alegre e expansiva, vindo longo beijando e abraçando a todos. Usando tênis e abrigo, parecia ser uma pessoa muito esportiva e feliz.
Quando viu o trabalho que eles estavam fazendo ficou empolgada e começou a elogiar o valor de uma vida em comunidade, de um modo um tanto exagerado.
Falou a todos, de uma maneira filosófica e até profética, que mais importante que terminar a casa era o crescimento interior de cada um, pela convivência com outros e que deviam submeter-se à leis, a dogmas que preservassem a vida em comum, senão a sociedade poderia se desestruturar.
Revelou-lhes depois, que sua aspiração é poder levar uma vida livre e verdadeira sem limitações de qualquer espécie entre pessoas que não toleram a trapaça e a falsidade à sua volta. Terminou dizendo que tinha muita confiança em si mesma e que conseguiria isso algum dia.
Penso e os outros convidaram-na para ficar com eles e empregar seus dogmas de boa convivência. Vejo aceitou ficar, principalmente por ser uma aventura nova em seu caminho.
No mesmo dia à tarde um sujeito que sempre passava sozinho pela rua usando uma roupa escura e com o olhar sombrio, veio fazer uma proposta ao grupo.
Apresentou-se pelo nome de Uso e pelo signo de Capricórnio. Disse que andou raciocinando sobre o trabalho deles e achava que deveriam construir essa e outra casas para terem lucro e poderem morar futuramente com mais comodidade.
Disse que havia calculado tudo muito bem e que por ser responsável e disciplinado poderia dirigir os novos empreendimentos.
Todos o acharam muito ambicioso e negaram sua sugestão. Sinto sugeriu que ficasse para trabalhar nas condições deles, porque sua intuição lhe dizia que a firmeza e vitalidade de Uso poderiam ser de grande valor para eles.
Uso, muito desconfiado daquela proposta, foi prudente mas aceitou. Apenas não revelou , que era radical na sua idéia de fazer novas casas e através da intimidade com todos esperava impô-la lentamente.
Um sujeito chamado Sei, do signo de Aquário, veio onde todos trabalhavam a procura de Ouso. Era um sujeito tranqüilo vestido de maneira excêntrica. Quando chegou ao grupo, encontrou Penso dizendo estar com dificuldades num cálculo do projeto. Sei prontamente ofereceu-se para ajudá-lo. Mostrando-se sábio e altruísta fez todo o trabalho para o outro.
O Ouso conhecia seu espírito humanitário e fraterno e ficou muito feliz com sua visita. Em nome dos outros o convidou para ficar e ajudá-los na construção.
Isento de preconceitos ele falou que qualquer função lhe servia, faxineiro ou projetista. Disse que era muito dinâmico e por isso renderia bastante no trabalho. Disse ainda que era uma pessoa muito livre desapegada e que essa convivência com eles iria ser muito importante pelo fato de ele precisar disciplinar essa liberdade.
Com o tempo descobriu combinações incríveis de cores e móveis, demonstrando um espírito criativo e revolucionário e um senso estético muito evoluído. Era integralmente um sujeito avançado.
Analiso um dia consultou a todos da possibilidade de convidar um amigo para morar com eles.
Disse que era um cara chamado Creio, do signo de Peixes.
Segundo Analiso, Creio era uma pessoa muito calma e religiosa. Todos aceitaram e ele veio.
Quando chegou mostrou-se logo muito simpático e compassivo para com Ouso que havia se machucado.
Mas principalmente era crédulo e impressionável porque levou a sério quando Ouso disse que um caminhão havia passado no seu dedo, por isso a ferida.
Todos riram do seu ar compreensivo e ele humildemente reconhecera sua credulidade simplória.
Acabou ficando com eles e nunca mais apareceu outro morador.  Só eles doze

Vitor Ramil - PoA, 17/5/82